quarta-feira, 29 de abril de 2009

onde a bondade ainda brilha


Terra de ninguém

Imagino que à passagem do tempo
somos uma estância em metamorfose,
percorremos o limite da utopia
a cada batimento da terra
e, só o silêncio nos é revelado.
Basta ler os lugares dos sonhos
e, de quem os habita.
Mas, na orla infinita do tempo incerto
da passagem da nossa existência humana
há ainda versos por ler
no enleio do fio dos dias.
Nada que agrida me é semelhante.
Nada que floresça me é indiferente.
Atravesso desertos
e, nos desencontros
descubro sinais visíveis, mil reflexos
de sustos e refúgios.
Inocularia na humanidade
alimento indispensável
para as almas da terra de ninguém,
onde a bondade ainda brilha.
Oiço, apenas, a memória que madruga
no envelhecimento da paz.
Cristina Correia

terça-feira, 28 de abril de 2009

Silêncios

_____é, por vezes, um murmurar de silêncios… que só ao poeta lhe é dado o condão de decifrar.



Camilo Castelo Branco " Os Amigos"

A palavra reveste uma indiscutível força poética, uma narração em torno de uma emotividade essencial ao Humanismo. E é justamente através da emotividade - na força poética da palavra - que o poeta desencadeia o dispositivo da criatividade no leitor e que floresce a partir do diálogo. Dá-se, assim, o enlace entre a alma e o humanismo, a única e singular assinatura do mundo - o respeito, o afecto e amizade que damos uns aos outros. CCcerne e verso.
Camilo Castelo Branco "Os Amigos"
Amigos cento e dez, e talvez mais,
eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
tão zelosos das leis da cortesia,
que eu, já farto de os ver, me escapulia
às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez, houve um somente
que não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver". . .
- Que cento e nove impávidos marotos!
Camilo Castelo Branco

segunda-feira, 20 de abril de 2009