segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O sol da savana


O sol intenso a bater na savana, o replicar constante da cigarra, o cheiro acre a terra húmida e aquela curva no fundo da picada que a vista esperta mal alcança, tem sombra de cajueiro, tem fruto de djambalau, tem gente muito chonguila, tem bicho maningue mau. Tem vida que vai e que vem. Tem vida que vai e não volta.

Ali, onde o homem e a natureza se fundem e se confundem. Onde trocam olhares cúmplices. Onde se enamoram e sorriem ao tempo que passa, que passa devagar, devagarzinho, num olhar que chiqui-chiqui noutro olhar. Ali, onde o bafo quente em forma de vento manso, afaga um encantamento doce que ondula ao som longínquo do batuque e da timbila seu sentimento primoroso que outro sentimento lhe há-de acorrentar.

Ali, onde o chamamento rijo brota musculoso das profundezas da terra no agitar maluco duma marrabenta que ecoa desvairada na tarde finda que a noite estrelada vai chamando. Ali, onde a sura, seiva da palma, faz feitiço possante nas cabeças, sente-se vibrar o trepidar forte dos corpos felinos que desafiam o danado do xicuembo e lhe fazem figas de eternos desafios.

Ali, onde o bicho fome bota fora, no caminho da estrada, sua força de grandeza grande, noutro bicho que outro bicho, outro dia, lhe vai comer.

Ali, onde a gente não tem mais nada que sua presença na planície larga, onde a vida não sabe que um dia vai, o sorriso vem num raio de sol… e passa de mão em mão… fazendo quantidade imensa a alegria que recebeu, em dia de saguate, da mão de seu irmão.


José António Santos


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Livros com Ideias Dentro


Livros com Ideias Dentro
Autor: António Rego Chaves
Editora: Campo das Letras
Ano: 2008
Género: Literarura


O autor:
António Rego Chaves nasceu em 1939, tendo-se licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi jornalista profissional e repórter internacional de 1968 a 2003 no Diário Popular e no Diário de Notícias, jornal onde também desempenhou funções de editorialista e colunista. Colaborou, antes do 25 de Abril, na revista Seara Nova e no semanário O Comércio do Funchal, sobretudo na área da política internacional. No suplemento DNA, do Diário de Notícias, e na página “Livros” do mesmo matutino, assinou numerosos ensaios e recensões críticas de âmbito filosófico, bem como os textos “Vinte e Quatro Diálogos Bíblicos" e “Encontros em Florença”. Juntamente com Ana Marques Gastão e Armando Silva Carvalho é autor de “Três Vezes Deus”.
A obra:
O livro pretende chamar a atenção para obras que, embora muito importantes, correm o risco de ser preteridas em favor de múltiplas temáticas fúteis que cada vez mais parecem ir ao encontro da procura de grande parte de leitores. Nestas recensões críticas, escolhidas entre cerca de duas centenas publicadas no Jornal de Negócios, aborda-se o pensamento de dezenas de intelectuais, portugueses e estrangeiros, cujo pensamento não deveria ser ignorado pelo nosso tempo – de Amos Oz, António Sérgio, Arendt, Beauvoir ou Camus a Manuel Laranjeira, Simone Weil, Unamuno, Voltaire ou Wittgenstein.

«Durante muitos anos, décadas, os jornais constituíram-se, entre outras coisas, em difusores de informações sobre os livros que iam sendo publicados (e sobre os filmes e peças de teatro que estreavam…). Faziam-no com cariz mais ou menos profundo, variando do simples registo de saída à avaliação do seu significado, estilo, interesse... Neste caso, pela mão de gente que, de uma forma ou outra, estava abalizada para o efeito. Havia os suplementos, mas também a divulgação esparsa, em muitos deles…Os jornais têm mudado, os leitores também, às vezes por causa de uns e dos outros, quando não mais destes do que daqueles. Ou seja, não consta que alguma vez os leitores tenham manifestado rejeição pela informação literária, entendendo-a não só como referente a livros, mas também a autores, a editoras, ou ao que a tal se referisse.Não consta esse desinteresse, mas a pouco e pouco os periódicos foram deixando cair o que a esta matéria se referia, a menos que alguma janela de interesse comercial aparecesse. E chegou-se ao que há hoje: nem suplementos com vocação para as artes e letras, nem informação avulsa ou organizada sobre esse mundo. Há excepções, mas mesmo entre os jornais ditos de referência a sobrevivência parece custosa.Vem isto a propósito de António Rego Chaves, um jornalista que atravessou uma boa parte da segunda metade do século XX, homem formado na Filosofia, mas que pela mão do jornalismo viu o (nosso) mundo, e o registou sob a forma de reportagem. Mas também das tais notas de leitura, ou de textos de opinião, e o mais que levou o jornalismo à categoria de fonte de poder – mais do que exercício do poder.Ao longo da vida, este jornalismo repartiu-se nesses dois registos, e outros. No caso, tendo passado por jornais generalistas, como o Diário Popular e o Diário de Notícias, acabou por seleccionar de larga colaboração no Jornal de Negócios um conjunto de 44 referências a obras – que na verdade eram justificação para abordar o pensamento dos seus autores. E porque estes eram nomes importantes, tanto da literatura pura como de sectores e actividades a que se dedicaram, o leitor era realmente encaminhado para o ângulo de leitura pretendido.É o caso, por exemplo, de uma biografia de Maquiavel, com a defesa de que não se deve tomar na sua obra o que é descritivo por normativo, ou seja, é de lê-lo como «um arguto repórter e um lúcido historiador de comportamentos dos políticos».Ou seja, este jornalista da política da sua época mais não queria do que «aprender a jogar com inteligência e eficácia o jogo que seriam forçados a jogar no interior do temível ninho de víboras habitado pela ‘classe política’». Assim sendo, Maquiavel acabaria por ter o destino dos mensageiros das más notícias: o que levou à conotação dicionarística do maquiavelismo com amoralismo.Juntas, em livro, estas críticas de livros têm mais do que um mérito. Mas, desde logo, ressalta o de dar unidade à leitura de um conjunto de edições não muito antigas, e que em alguns dos casos, pelo menos, com o sopro do calendário se apagam nas memórias – e nas páginas dos jornais que inicialmente as acolheram.»

«“Livros com Ideias Dentro” de António Rego Chaves é um percurso que nos revela um conjunto diversificado, mas de grande interesse, de obras e de autores. Com grande cuidado na escolha dos livros e no tratamento das ideias que estes contêm, o autor organizou uma obra de qualidade, que nos permite ver pelos olhos de quem nos conduz um verdadeiro caleidoscópio que nos faz compreender melhor o mundo em que vivemos. Trata-se de textos jornalísticos de uma grande sensibilidade e exigência, que correspondem a uma concepção de elevado sentido cívico e ético sobre o serviço público cultural do jornalista, o que é de realçar.

COMO NUM PEQUENO DICIONÁRIO, o jornalista (que é sobretudo ensaísta) apresenta-nos os diversos livros analisados por ordem alfabética de autores, o que nos permite construirmos o nosso próprio percurso de leitura ou seguir, de modo aleatório, sem continuidade cronológica, as obras que nos são propostas. Ambos os caminhos reservam-nos um contacto muito estimulante com as reflexões feitas. De facto, estamos perante obra de ideias, que estimula o sentido crítico, o que é uma virtude que tem de ser elogiada. Logo de início, lemos sobre o Abbé Pierre: “Não foi o único, mas poderá ter sido, no século XX, um dos raros ‘santos’ cristãos”. A afirmação dá o tom do livro. António Rego Chaves nunca deixa o leitor em descanso ou em atitude conformista. Gosta de desinquietar, mobilizando os leitores para a sua atitude de agitar águas e de lançar desafios inteligentes. E nesse primeiro texto, ressalta a afirmação do próprio Abade: “A luta pelo meu pão pode ser materialismo; mas a luta pelo pão dos outros já é espiritualismo”. De facto, num tempo em que o dinheiro faz correr todo o mundo, o sacerdote francês foi sempre motivado por esse estranho mas apaixonante desafio que é o Amor. E a análise do livro “Porquê, meu Deus?”, de um “santo” que era cristão, é centrada, no essencial, nessa procura e nesse constante pôr em causa das considerações redutoras que, às vezes, em nome da pureza dos princípios, escondem a desconfiança e a idolatria. Aliás, logo a seguir fala de Amos Oz e de “Contra o Fanatismo”. E Rego Chaves põe especial ênfase na resposta à pergunta: qual a essência do fanatismo? Trata-se do “desejo de obrigar os outros a mudar” – diz Amos Oz. (…) “O fanático é um grande altruísta. Está mais interessado nos outros do que em si próprio”. (…) O fanático morre de amores pelo outro. Das duas uma: ou nos deita os braços ao pescoço porque nos ama de verdade, ou se atira à nossa garganta no caso de sermos irrecuperáveis”… E depois António Sérgio vem-nos alertar (sobre a inexistência de uma Civilização Cristã) para que “não seria possível servir a dois senhores, Deus e o dinheiro. Uma forma de civilização caracterizada pela competição e pela guerra entre os homens para chamarem a si o dinheiro não seria digna de ser classificada como cristã”. De facto, ao apresentar-nos um conjunto de comentários a livros, publicados no “Jornal de Negócios”, Rego Chaves vai pondo pedras no caminho que assinalam estimulantes sentidos de responsabilidade crítica.

TEMAS SUCEDEM-SE. Hannah Arendt, Beauvoir, Camus, Celan, Heidegger, Jünger, Küng, Hobsbawm, Malraux, Marx, Sartre, Simone Weil e Wittgenstein… Eis um percurso não exautivo. O totalitarismo de Arendt fica subalternizado perante a deslumbrante magia de “A Vida do Espírito”. Sobre Simone de Beauvoir e Sartre fala-se das polémicas do tempo e de estranhas reacções a “Le Deuxième Sexe” e ao seu sentido emancipador, que levariam Jean-Marie Domenach a dizer “é necessário não impor ao cristianismo os óculos da moral burguesa”. E Jean Paul Sartre aparece-nos a afirmar não só que foi “conduzido à descrença, não pelo conflito dos dogmas, mas pela indiferença dos meus avós”, mas também que “a esperança é a relação do homem com o seu fim, relação que existe mesmo se o fim não é atingido”. Camus é visto pelos olhos de uma decepção, a propósito de um número do “Magazine Littéraire”, onde algumas simplificações não retratam por inteiro o cidadão – correndo-se o risco de cair no anacronismo histórico. O diálogo Celan-Heidegger, de um poeta e de um filósofo, revela-nos o claro e o escuro de uma relação equívoca, em que o poeta romeno alimenta sentimentos contraditórios a propósito do pensador, que transportou sempre consigo a terrível contradição de ter contribuído para a “malignidade do mal” nazi e de ser um dos filósofos mais estimulantes do seu século. E uma última carta, que teria ficado por enviar, dá bem conta desse paradoxo de admiração e repulsa: “pelo vosso comportamento enfraqueceis de maneira decisiva o poético e ouso suspeitá-lo o filosófico na vontade séria de responsabilidade que pertence a ambos”… Ernst Jünger é um curioso paradigma do século XX. Indiscutivelmente um grande escritor, faz-se no cadinho de um século de belicismo e de violência. A sua originalidade está na tentativa de “elevar a literatura à categoria de experiência de vida”. Diz-nos, assim, que “como instinto sexual, a guerra não é instituída pelo homem, é lei da natureza, e por isso nunca poderemos fugir do seu império”. E Rego Chaves comenta: “dir-se-ia que o fantasma de Nietzsche, enfim reconciliado com o de Wagner, tomara Bayreuth de assalto para a transformar em capital da ópera bufa”. Por outro lado, a coerência de Hans Küng é recordada na sentença: “quando a Igreja não realiza a causa de Jesus Cristo ou a distorce, peca contra o seu próprio ser e perde esse ser”. Eric Hobsbawm, historiador marxista, cujos brilhantismo e força intuitiva servem para ultrapassar quaisquer barreiras ideológicas para os seus leitores, surge na força da sua persistência: “Não devemos depor as armas, por mais ingratos que os tempos de mostrem. É necessário continuar a denunciar e a combater a injustiça social. Se nos limitarmos a deixá-lo entregue a si próprio, o mundo não se tornará automaticamente melhor”. A propósito de André Malraux, o autor fala-nos de uma leviana idiotice, de uma profecia desmentida pelo próprio: “o século XX será religioso ou não será”. Nunca o disse, e a citação só poderia fazê-la quem ignorasse o homem desolado do fim da vida, para quem, apesar de perseguido pelos espectros de Pascal, de Kierkegaard e de Dostoievsi, “o incognoscível absoluto não é um domínio de dúvida; é tão imperioso como as fés sucessivas da humanidade”. Sobre Karl Marx, António Rego Chaves fala do desconhecido – que “não era determinista, nem inimigo das liberdades individuais, nem da propriedade privada, nem da fé e da religião”. Estamos perante outro lado do problema quando se trata de analisar (à luz quiçá cartesiana) o autor dos “Manuscritos de 1844” e do “Manifesto do Partido Comunista”, e é sempre fundamental desmontar as ideias falsamente feitas e condicionadas pelas próprias vicissitudes da história. Com “A Gravidade e a Graça” de Simone Weil, o autor cita: “o mundo tem necessidade de santos que tenham génio, tal como uma cidade com peste tem necessidade de médicos”. E ARC comenta: “o mesmo é dizer que a força da gravidade (natureza) precisa de ser atraída, elevada e transfigurada pela luz da graça, do sobrenatural, da caridade”…


SILÊNCIOS E O GRITO – “Os Cadernos” de Wittgenstein, dos anos de 1914 a 1916 constituem motivo para uma reflexão especial, na linha do que Rego Chaves já tem trabalhado. O percurso do pensador austríaco não é isento de dúvidas, hesitações, perplexidades e aproveitamentos. E, como afirmou, Eckard Nordhofen: “A velha disputa sobre o famoso silêncio que aparece no final do Tractatus é um silêncio sobre algo ou é um silêncio sobre nada, ficou sem dúvida resolvida. É um silêncio sobre algo, sobre o mais importante, sobre aquilo que não se deixa dizer. É teologia negativa no seu grau mais puro”. Ou não fosse a obra um constante apelo a ler mais, para tentar compreender melhor!
(Guilherme d'Oliveira Martins)

O Pensador, de Rodin.
A actualidade do implacável Maquiavel Saindo em louvor do politicólogo Maquiavel e do seu implacável “O Príncipe”, no texto titulado, precisamente, “Em louvor de O Príncipe”, António Rego Chaves relembra o que disse Francis Bacon daquela obra: “Estamos muito reconhecidos a Maquiavel e a outros como ele, que escreveram aquilo que os homens fazem, e não aquilo que devem fazer.”Salientando que o autor quinhentista continua a ser incompreendido pela generalidade dos seus leitores, A. Rego Chaves remete, ilustrando, para o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa que define “levianamente o “maquievalismo” como sistema político, baseado nas ideias do escritor e político florentino Maquiavel e caracterizado pelo princípio amoral de que os fins justificam todos os meios e que a arte de governar deve estar acima de todas as preocupações de carácter ético, religioso…”. O italiano, defende-se, “queria desvendar aos seus contemporâneos os segredos do realismo político, a invenção, a táctica e a estratégia, a ‘ciência’ do Poder”, limitando-se a proclamar “não apenas que o rei ia nu, mas que os príncipes antigos e os da sua época sempre tinham andado em pelota, ainda que nenhum deles tivesse admitido tal prática.”

A enformar a argumentação, o texto chama Jean Giono, que se pronunciou sobre as “Concepções psicológicas, sociais e políticas” de Maquiavel: o seu grande conhecimento da alma humana fá-lo crer que “para ele, um homem de confiança é um homem que se pode comprar”, sabendo que “não se pode confiar totalmente senão nas fraquezas e, em particular, no interesse pessoal”.

E António Rego Chaves acrescenta: «Pessimista, Maquiavel? Tememos bem que não. Considerava que “é necessário ser um príncipe para compreender totalmente a natureza do povo e ser um vulgar cidadão para compreender totalmente a natureza dos príncipes.” Talvez tenha encarado o cruel César Bórgia, filho do não menos cruel Papa Alexandre VI e aventureiro sem escrúpulos, como o “governante perfeito”, pois aprendera à sua custa que “aquele que negligencia aquilo que é feito em benefício daquilo que devia ser feito efectiva mais rapidamente a sua ruína do que a sua preservação”. Também sabia, por saber de experiência feito, que os homens “são ingratos”, inconstantes, mentirosos e velhacos, fogem do perigo e são gananciosos” e não vislumbrava qualquer espécie de “salvação” para aquilo que considerava ser a natureza humana, estando convicto de que ninguém poderia ser ao mesmo tempo um bom cristão e um governante forte, condição esta indispensável ao eficaz exercício do poder.”

Segundo A. Rego Chaves, o «arguto repórter» e “lúcido historiador de comportamentos dos políticos” que foi Maquiavel, permitiu-lhe constatar que o objectivo da acção dos políticos “não seria, segundo lhe foi dado a observar, pôr em prática grandes ideais capazes de conduzir a Humanidade à formação e consolidação de sociedades mais perfeitas, mas apenas jogar o jogo do Poder – para o ganhar, seja a que preço for, retirando qualquer carga moral aos meios utilizados para alcançar os seus fins egoístas. Para os governantes – mas não para o repórter e historiador Maquiavel – tais mesquinhos fins, justificariam, de facto, todos os meios.”Pertinentemente pois temos de aquiescer, António Rego Chaves refere que “a denúncia do florentino em nada contribuiu para alterar a prática dos líderes políticos que nos últimos cinco séculos se têm assenhoreado dos destinos dos povos.”».
(Teresa Sá Couto)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os homens vivem juntos, porém cada um morre sozinho e a morte é a suprema solidão.
Miguel Unamuno

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Suzana Ralha e o Bando dos Gambozinos


Suzana Ralha nasceu no Porto em 1958, cidade onde estudou música e piano, sendo aluna de Helena Sá e Costa. Desenvolveu a partir de 1975 uma intensa actividade musical na área da educação, criando o Bando dos Gambozinos, uma associação cultural de educação pela arte, sem fins lucrativos, que continua hoje ainda a funcionar na cidade. Do seu currículo contam-se dezenas de participações em colóquios, conferências e realizações na área da Educação, acções de formação de monitores e professores, tendo sido responsável na Casa da Música por algumas das mais significativas acções do Departamento Educativo que integrou e chegou a dirigir, como sejam as óperas de comunidade Wozzeck e Demolição. É autora de mais de uma centena de cantigas para a infância, grande parte das quais editada num conjunto de uma dezena de trabalhos discográficos e literários publicados desde 1980. Grande parte destes inéditos é constituída por abordagens musicais temáticas à poesia de autores portugueses como, Luísa Ducla Soares, Matilde Rosa Araújo, Manuel António Pina e muitos outros. Em meados dos anos 90 dirigiu o Bando dos Gambozinos na primeira gravação integral das Cançõezinhas da Tila, de Fernando Lopes-Graça. Pelos Gambozinos, nas diversas formas das expressões artísticas, têm passado centenas de crianças e jovens, alguns dos quais continuam ligados às actividades da associação através dos respectivos filhos que hoje as frequentam. No âmbito dos Gambozinos ou fora da associação, são inúmeras as colaborações de Suzana Ralha com uma grande variedade de autores e artistas portugueses. Do seu trabalho e dos Gambozinos escreveu o poeta e especialista em literatura para a infância, José António Gomes, que “os Gambozinos vêm construindo, com a ajuda de outros músicos e de vários poetas, o cancioneiro infantil e juvenil português da viragem do século e do milénio”.

A Casa do Silêncio. Bando dos Gambozinos, 25 anos


A Casa do Silêncio. Bando dos Gambozinos, 25 anos

"Tantas maneiras de ver e viver" (com 2 Cd's)
de Susana Ralha

Edição/reimpressão: 2000
Páginas: 60
Editor: Edições Afrontamento
ISBN: 9789723605440
Colecção:
Tretas e Letras

sábado, 28 de novembro de 2009

A música

A música é o verbo do futuro.
Victor Marie Hugo
França[1802-1885]
Poeta, Escritor, Dramaturgo, Político


A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo.
Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde
Irlanda[1854-1900]
Escritor/Poeta/Dramaturgo/Ensaísta


Entre as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música. A música é tal qual como a recebemos: numa alma pura, qualquer música suscita sentimentos de pureza.
Miguel de Unamuno y Jugo
Espanha[1864-1936]
Filósofo/Escritor

Música

http://f-clubemaradosacademy.blogspot.com/

http://www.myspace.com/filipemarado

FADO...

FADO...
FADO...
FADO...

Filipe Marado na FNAC

Filipe Marado na FNAC

Filipe Marado na FNAC

Filipe Marado na FNAC


sábado, 21 de novembro de 2009

Música

http://www.vintem.com/

ACADEMIA DE LETRAS E ARTES LUSÓFONAS – ACLAL

“Aqui florirão as Musas “emigradas” da Velha Hélade… Fico imensamente feliz com este “encontro”.Fernando Paulo Baptista
“O nosso primeiro encontro, primeiro passo de muitos que há a percorrer neste nosso “nascer” para o Mundo, levando a nossa língua e a nossa cultura pelos laços dos afectos.”Libânia Madureira“
Grande e virtuoso dia este, o do nascimento de tão nobre Movimento para a Lusofonia: “VERITAS PER ARTEM”Daniel Calado Café“
É com inaudito prazer que retorno a esta Terra mágica e cheia de encanto imbuída da vontade precisa para erguer esta bandeira da Lusofonia, pela nossa amada língua”.Teresa Calçada“
Lusofonia com sentimentos, com fraternidade, solidariedade, comunhão, com dádivas recíprocas, tudo atado com os laços do idioma que é cantado em todas as Terras e Mares com notas diferentes mas para todos inteligíveis e belas…”Alberto Lucena
E, finalmente, a mensagem primeira, improvisada e sentida, do Presidente da ACLAL:
“Pluralizando o pensamento de Pessoa:“Os homens sonham, Deus quer, a Obra nasce”Neste caso um sonho de muitos, o qual, nalguns momentos e espaços, já foi sentido e (também) realizado.Sonhado que foi por António Vieira, o seu “imperador”, por Agostinho da Silva, Fernando Pessoa, Eduardo Lourenço, seus seguidores, todos eles e tantos outros, a trilhar os caminhos em direcção à reluzente estrela que alumia o mágico, encantado e desejado V Império, mito que se tornará “realidade” com a conjunção de esforços de todos os que se expressam através da amada Língua de Bilac, de Assis, de Pepetela, de Mia, de Eça, de Camilo, de Camões, de Amado, de Aquilino, de Torga, de Erico, de Carlos Gomes, de Malhoa, de Nobre, de Agenor, de Di Cavalcanti, de Portinari, de Niemeier, de Glauber, de Villa-Lobos, de Lopes Graça, Jolly, Seixas, Cecília, Sophia, Herberto, Fernando Paulo, Víctor Aguiar e Silva, Vicente, Lygia, Raquel, Manoel Oliveira, Fernão Lopes, Coelho, Antero, Ary, Natércia, Natália, Mandarino, Iracy, Sansão e tantos e tantos outros de Angola a Timor por todos os oito países que falam em português.Nas letras, nas demais artes, em todos os aspectos das respectivas culturas propõem-se matrimónios indissolúveis em que os divórcios são desconhecidos entre todos os povos lusófonos entre si, dando-se uns aos outros em autêntica fraternidade, solidariedade e comunhão numa verdadeira e sã interculturalidade na multiculturalidade; em todos os tempos e em todos os seus espaços, sentindo-se as mensagens trocadas nas brisas que sobrenadam os mares soprados pelos Atlantes e pelo Índico das monções trazendo fragrâncias de cravo e canela, de lírio e rosas, de estevas e alecrins, de jasmins e cerejeiras, debaixo dos cantos dos sabiás, das aves das selvas, de Amália, de Vinícius, de Indico, de Cesária, de Dolores, Maysa, Alcina, de Isabel Silvestre, de Elis, de Zé Afonso e tantos.Avante Brasil, gigante a movimentar o comboio da Lusofonia.Avante Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, São Tomé e Príncipe.Avante Timor e Comunidades de Língua Portuguesa, em Goa, Malaca, Macau, Alemanha, Canadá, França, Suíça, Andorra e outras.Avante pela amada Língua e pelo sublime sentimento da Fraternidade e da Lusofonia.
O Arménio Vasconcelos"

sábado, 31 de outubro de 2009

Fosse eu Sempre,uma metáfora apenas...


Fosse eu Sempre, uma metáfora apenas.

...viajo contigo os caminhos, sempre que me pedires,
tão suavemente que só eu me escuto, inteiramente, a vontade do mundo inteiro…
…com a força do verso percorro os passos que me acompanham a alagar a alma…
…e, em cada percurso, sou aprendiz do tempo
…e, suporto a saudade do que não vivi…
…não sei quanto alento ainda tenho, sei que…
Fico só, inteiramente!
…e, contemplo as palavras mudas.
Pode ser que um dia, eu encontre um jardim que seja a quimera da minha árvore…
vou viajar, vou para (um) o porto
CC

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

III Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura


III Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura

Realiza-se, na Fundação Calouste Gulbenkian, nos próximos dias 22 e 23 de Outubro a III Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura.
A apresentação de projectos de promoção da leitura e a avaliação externa do programa serão algumas das questões a abordar nesta terceira edição da conferência do PNL.
Consultar programa >>

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

História das Bibliotecas

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Miguel Torga

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CADERNO DE HISTÓRIAS

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Seminário School libraries, Curriculum and Web 2.0: Strategies for Teaching the 21st Century Learner

Caros professores bibliotecários,

Amanhã, dia 1 de Outubro, entre as 14h 30m e as 17h, 30m, vai ter lugar um Seminário promovido pelo Gabinete Rede de Bibliotecas Escolares, dirigido pelo Professor Ross
Todd, especialista de grande reputação nas temáticas das Bibliotecas Escolares e dos desafios que se colocam hoje à Escola no desenvolvimento do currículo e do papel das tecnologias de informação, designadamente as ferramentas da Web 2.0.

O tema será "School libraries, Curriculum and Web 2.0: Strategies for Teaching the 21st Century Learner”.

Uma vez que se torna impossível realizar presencialmente esta formação para abranger todos os professores bibliotecários, que consideramos fundamental para o bom desempenho da função e trabalhar de forma mais científica e prática com os professores das disciplinas na apropriação dos recursos da BE e das tecnologias, há a possibilidade de assistir através de vídeodifusão, acedendo ao seguinte endereço:

http://videodifusao.dgidc.min-edu.pt/rbe

Certa que poderemos ter a vossa adesão a esta nossa iniciativa, que consideramos de grande utilidade para todos, contamos com a vossa participação virtual.

Teresa Calçada
RBE

terça-feira, 18 de agosto de 2009

GUERRA JUNQUEIRO



É um projecto ambicioso, inovador e ainda a concretizar-se, aquele que o Departamento de Som e Imagem da Escola da Artes da Universidade Católica Portuguesa do Porto gizou em torno do atraente site Revisitar/Descobrir Guerra Junqueiro. Sob a coordenação e a direcção científica de Henrique Manuel S. Pereira, estão previstas a edição de um livro e de um CD sobre a música de Junqueiro; a produção de um documentário intitulado Nome de Guerra, a Viagem de Junqueiro, que visa dar a conhecer as múltiplas facetas do escritor (António Telmo e Pedro Sinde, do círculo dos Cadernos, mas também Dalila Pereira da Costa, Pinharanda Gomes, Joaquim Domingues e António Cândido Franco, são alguns dos nomes em foco); e a publicação de um outro volume que, abrangendo diversos universos temáticos, reproduz e amplia as entrevistas realizadas no âmbito daquele documentário. A edição de uma fotobiografia e a realização de um concerto de homenagem ao poeta, em data a agendar, completam este projecto, que o leitor poderá agora descobrir por si próprio, entrando aqui.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Os 25 anos do Museu Maria da Fontinha

O Museu Maria da Fontinha, em parceria com a Academia de Letras e Artes de Paranapuã ALAP (Rio de Janeiro - Brasil) e a Academia de Letras e Artes Lusófonas ACLAL, organizaram mais um Encontro de Intercâmbio Cultural e Lusofonia. O evento teve lugar no Auditório José Vasconcelos (Museu Maria da Fontinha, Além Rio, Gafanhão, Castro Daire), no passado dia 8 de Agosto, pelas 14:00h. Na cerimónia solene foram outorgadas Medalhas e Diplomas de Mérito a várias personalidades da região. Entre os homenageados, a Comunidade Académica e Artística de Paranapuã e o Museu Maria da Fontinha distinguiram pintores, músicos, artistas plásticos, poetas/escritores, Autoridades Religiosas, estudantes, docentes, bibliotecários, investigadores, advogados, empresários, editores/jornalistas, artesãos, associações culturais, autarcas e personalidades que no percurso de vida têm prestado relevantes serviços em prol da cidadania, da cultura e da lusofonia. António Maia Nabais, Isabel Silvestre, José Alberto Sardinha, Daniel Café, Adélio Amaro, Paulo Cardoso, José António Santos, Aurora Simões de Matos, Isabel Cristina Santos, Marisabel Moutela, António Borges, Luís Filipe Vasconcelos, Alexandrino Matos, Rui Costa, Filipe Marado, Maria José Quintela, Jorge Ferreira, Luís Costa, Associação Cultural de Nodar, foram alguns dos homenageados. O escritor, advogado e museólogo Arménio Vasconcelos, director-presidente do Museu Maria da Fontinha, museu do Território do Vale da Paiva e Serras e da Academia de Letras e Artes Lusófonas, foi condecorado pela Academia de Letras e Artes de Paranapuã pelos valiosos serviços concedidos à lusofonia. Uma demonstração eloquente do reconhecimento e respeito pelo humanista Arménio Vasconcelos e pelo trabalho que está a realizar em Portugal e nos países lusófonos em favor do desenvolvimento, apoio e divulgação da cultura. Para além dos actos e cerimónias alusivos aos 25 anos do Museu Maria da Fontinha, o dia 8 de Agosto de 2009 foi escolhido para a implantação e posse dos membros fundadores da Academia de Letras e Artes Lusófonas (nos oito Países da Lusofonia e em algumas Comunidades onde se fala a nossa língua) - cidadãos imbuídos do espírito associativo manifestando disponibilidade em assumir e desenvolver projectos que visam estimular valores de cidadania e promover acções de carácter cultural lusófono em todo o mundo, assim como conferências, seminários, simpósios, criação de áreas de pesquisa, centro de documentação e alargamento do intercâmbio cultural entre estas nações para que estimulem a cooperação e o elo em comum - a Língua Portuguesa. O Encontro da comemoração dos 25 anos do Museu Maria da Fontinha contou com a projecção de filme e apresentação de livro respeitantes aos núcleos museológicos do Vale da Paiva e Serras abrangendo o património musical desta Região, os Cantares de Manhouce, a voz de Isabel Silvestre acompanhada pelo pianista Alexandrino Matos, recolhas musicais do Etnomusicólogo José Alberto Sardinha, bem como o Santuário da Senhora de Rodes e o “fabrico” dos barros pretos de Ribolhos. A Musealização do Vale da Paiva e Serras compreende 50 núcleos museológicos abrangendo património arqueológico (megalitismo e outros), geológico (geossítios, trilobites, pedras parideiras, etc.), histórico (Rodes, Ermida e muitos outros), religioso (mosteiros, igrejas e capelas), artístico e etnográfico (museus de Arouca, Maria da Fontinha e outros), paisagístico, artesanal, gastronómico e musical. Nesta comemoração, foram várias as localidades de Portugal que estiveram presentes: Alcanena, Leiria, Alvarenga, Arouca, S. Pedro do Sul, Lamego, Torres Vedras, Castro Daire, Évora, Nodar, Resende, Setúbal, Amadora, Lisboa, Vila Nova de Paiva, Batalha, Viseu, assim como outras dos restantes países lusófonos onde se irão projectar o futuro destas células da Lusofonia, sempre com vontade, arte, cultura e verdade. Juntaram-se ainda a este Encontro, cidadãos de Goa, Macau, Canadá, França, Suíça, Alemanha, EUA, Reino Unido, Espanha; amigos e companheiros vindos das terras onde se expressam em Português. O Ministério da Cultura, o Governo Civil do Distrito de Viseu e a Câmara Municipal de Castro Daire marcaram presença, neste dia, no Museu Maria da Fontinha.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Museu Mª da Fontinha - em Além do Rio, Castro Daire - Solenidades do dia 8 de Agosto 2009 -

Museu Mª da Fontinha
http://casamuseumariadafontinha.blogspot.com/
http://museufontinhapintura.blogspot.com/

http://museufontinhaescultura.blogspot.com/
http://museufontinhalivros.blogspot.com/

Solenidades do dia 08 de Agosto, a partir das 13H45, nos Jardins da Fontinha, em Além do Rio, Castro Daire.

Nascimento do Museu Mª da Fontinha; criação, com apresentação de filme e livro alusivos, do Museu do Território do Vale da Paiva e Serras com 50 núcleos museológicos, bem assim da apresentação de elementos da recém criada Academia de Letras e Artes Lusófonas -ACLAL, com mais de quinhentos membros fundadores, nos oito Países da Lusofonia e em algumas Comunidades onde se fala a nossa língua, pelas sete partidas do globo.

http://armenio-vasconcelos.blogspot.com/

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Palavras adormecidas e outras vozes...






- Truz-truz!
- Entrai. Sede bem-vindos.
Iniciada a viagem, diante de nós a memória é o caminho do indefinido, dum mundo de imprevisto, diálogo incessante da dinâmica da Vida, simbiose entre o futuro, o presente e o passado.
Com todos os que dão magia e sonho à palavra escrita, comungamos.
É com encantamento que, nestes encontros, o pensamento perscruta a dimensão criativa, esta riqueza humana desperta de conhecimento.
Celebra-se a peregrinação das palavras adormecidas.
Continuaremos, essencialmente, na busca da essência do tempo, vivenciando em pleno fontes de alegria da profundidade do Ser.
Ali, no cimo do monte, parados no interior do automóvel, a uma escassa meia dúzia de quilómetros depara-se-nos a aldeia que se estende por vastos terrenos constituídos por vales e várzeas.
Abrigada pela privilegiada beleza da Serra, uma graciosa terra transmontana de gente notável e provida de talento se avista.
Ventanias de aromas povoam as casas de pedra da aldeia do mundo. Um caleidoscópio de manifestações de regionalismo pleno atinge a constelação de todos ao som de instrumentos musicais tradicionais, guitarra portuguesa, bandolim, audição de música clássica e salmos.
Chamavam-lhe aldeia do trabalho. Vales e pedras cobriam os seus terrenos de lavradio e recantos, que homens foram talhando ao longo dos séculos. A quinta, abundante de tudo, renascia todos os anos cansada de trabalhos corpulentos. A mina permanecia firme e a água, fonte da vida da aldeia, continuava a correr límpida e fresca.
Aquele solo era amado por Deus, como um filho.
O simbolismo dos Anjos esculpidos em pedra pelas mãos de mulheres e homens, reunidos no alpendre da capela, junto da mãe-torre, perpetuam no céu a mensagem de Aleluia das vozes do campo, do vale, da montanha e dos sonhos das crianças.
Descendo a encosta pela estrada macadame, dirigimo-nos à aldeia de infância de Francisco. Olhamos os lameiros, os trabalhos de terraplenagem iniciados nos lugares das Almoínhas, nos Casarelhos e na Corriça. O começo da instalação de bocas de rega para os novos pomares já se avizinha.
Junto ao casarão o quintal estava a ser tratado pelo primo António, mais velho cinco anos, que ficara a viver na aldeia, enquanto Francisco decidira ingressar na vida militar, fazendo algumas comissões no Ultramar, com regresso definitivo à Metrópole nos anos sessenta.
Dirigimo-nos ao pátio secular, de uma beleza incomparável, onde os amores-perfeitos, a trepadeira de lilases e as rosas despontavam luzes, cores e odores celestes todas as madrugadas. As sombras, os canteiros e os bancos arrumados despertavam os convidados a sentirem a auréola, procurando num desabrochar duma planta a mais pura e incognoscível manifestação da natureza.
Os arbustos, verdadeiros arautos da essência do porvir, cresciam junto às largas escadas, por onde Francisco subira para entrar em casa.
Entre velhos manuscritos caligrafados em folhas de papel velino e uma vela de candeia, Francisco vai enxergando os vultos das letras e os desenhos assimétricos que sua mãe Amália lhe deixara. As folhas já soltas, envolvidas por um xaile, no interior da arca, vêm reconstituir um lugar no tempo da sua íntima emoção. A toalha branca do Domingo de Ramos, o âmbar e a cidreira repousavam junto das cartas de sua mãe.
Sozinho, no quarto de seus pais, vai examinando as estampas, as escassas fotografias e os catálogos amontoados nos móveis da casa de pedra.
A trovoada fulgurante prolongava-se pela madrugada e os clarões rasgavam silhuetas nos muros da sua memória.
Quando a saudade toldava o coração, no sentimento de Francisco penetravam as mais diversas palavras agridoces, paisagens e vozes vivificantes.
Recorda as imagens de seu pai, homem de cérebro arrojado que procurou no próprio conhecimento, o entendimento, a vida, o seu sentido e o seu valor, sentado na eira, nas noites de Verão, balbuciando episódios do quotidiano.
A recitação de poesia partilhada pelo encontro de gentes da terra, de outros lugares e sentimentos, envolvia-os em viagens nómadas, inéditas, singulares, de imagens telúricas e saborosas.
Ficamos dias, sem pressa.
Demoramo-nos nos diálogos férteis de inteireza humana.
Revisitamos os compartimentos, os olhares profundos e os rostos familiares. Ali, naquele lugar, as vozes vinham ao encontro de todos.
Entre dois nacos de boroa, um caldo feijão e um bolo de cenoura, acende-se o fogo quente no rés-do-chão, que depois há-de servir para aquecer as longas horas dos serões.
A grande mesa rectangular estendia-se pela sala rústica, onde todos se reuniam para dividir o conduto e o trabalho. Cenário de diversos instrumentos espirituais, religião, superstição, ciência e filosofia, nela cabiam todos. Irmãos, primos, tios, pais e avós de Francisco, ali, edificavam projectos, venciam rotinas do trabalho braçal, diziam histórias, falavam dos estudos e da escola na aldeia vizinha, tocavam músicas da Banda Filarmónica, contavam a jorna e rebuscavam sonhos longínquos de novos céus. Eram deleitosos os convívios, profícuos em trabalho e em humanidade.
Já o céu estava povoado de silêncios, quando nos recolhemos na oração, de joelhos junto ao oratório, num momento de resignação.
Por fim, reinventamos as palavras adormecidas e outras vozes. Vozes dos anjos, vozes de pedra, vozes de estrelas, guardiãs da nossa própria consciência.

Cristina Correia, in Percursos - 2006

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Uma Palavra


Aurora Duarte Simões de Matos nasceu em Meã, concelho de Castro Daire, em 1942. Fez estudos secundários no Colégio de S. Tomás de Aquino em S. Pedro do Sul e no grande Colégio Português em Viseu. Em 1960, diplomada pela Escola do Magistério Primário, iniciou a sua carreira de docente que passaria pela Educação Especial. Colaboradora de vários órgãos da Imprensa Regional, publicou em 1997 o seu primeiro livro de poesia "Poentes de mar e serra", com o apoio da Câmara Municipal de Castro Daire. Foi distinguida em 1998 com o Galardão da Casa-Museu Maria da Fontinha, como "poeta, notável cantora das nossas serras e gentes, pelos relevantes serviços prestados à cultura".
UMA PALAVRA - Livro de subtilezas, sonhos, dores, amores, esta obra de Aurora Simões de Matos é uma descoberta irresistível. Semi-ocultos, semi-diluídos mas não inexistentes, os gestos, os sentimentos ganham nela luz e memória de singular repercussão. O poético, o feminino (não no sentido feminista), o religioso (no sentido de religador), o cúmplice (no sentido de partilhável) atingem aqui respiração e significado invulgares. Escrita de tonalidades imprevisíveis, a obra desta autora afirma-se uma descoberta irresistível. Lê-la devagar é imergir num universo de tons intensos onde a natureza (as estações do ano balizam o seu novo livro) ganha uma pujança que nos envolve para sempre. A harmonia da prosa e do verso, dos olhares e dos sentimentos não tem fronteiras, tudo dilata, acrescenta-nos. (do prefácio) Fernando Dacosta (escritor)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Histórico do Museu Maria da Fontinha


Histórico do Museu Maria da Fontinha
Museu Maria da Fontinha, em requalificação até Maio de 2009
Este Museu foi construído durante os anos de 1982 e 1984; situando-se num local de beleza deslumbrante. Do edifício vêem-se dezenas de aglomerados populacionais, predominando os verdes dos montes, os amarelos vivos dos tojos e giestas, os roxos e lilases das urzes e dos rosmaninhos e todo o Vale do Paiva. Aí, em casa centenária, viveu uma Mulher, exemplo de Mãe e Cidadã, cuja bondade ainda hoje é recordada pelos mais idosos, seus contemporâneos. Muito se tem escrito sobre Maria do Carmo do Rosário, de seu nome, do Museu da Fontinha, do lugar de Além do Rio. Viveu 73 anos, tendo falecido na Cidade do Rio de Janeiro, em 3 de Maio de 1970, aquando da sua primeira visita ao Brasil, a rever os dois filhos que aqui aí se encontravam desde a década de quarenta, desempenhando funções de Direcção na empresa “Mateis e Cª Têxteis”, na Rua dos Beneditinos, primeiro e na Rua Visconde de Inhaúma, depois. Descendentes, brasileiros, deixou e existem filho, nora, três netos e cinco bisnetos. Os seus restos mortais encontram-se hoje no Jazigo da Casa da Fontinha, cuja construção, de estilo “clássico”, totalmente de granito maciço, contém o seu sarcófago, específica e artisticamente concebido, de acordo com o seu merecimento.É desde sempre íntima a relação das suas gentes com o Brasil que todos admiram e amam; sendo certo que quatro irmãos na Maria da Fontinha aqui estão sepultados e cá vivem seus filhos, netos e bisnetos, todos brasileiros. Foi inaugurado o Museu, em 5 de Agosto de 1984, pelo Presidente da República Portuguesa, General António Ramalho Eanes e Exma. Esposa, com a presença do então Ministro da Cultura, Dr. Coimbra Martins; representante dos Embaixadores do Brasil, Espanha e Autoridades diversas.É, eventualmente, o Museu particular do País mais completo e com maior número de obras. Assim, do seu acervo, constam hoje cerca de 1400 quadros, 250 esculturas; centenas de peças e alfaias de etnografia; milhares de exemplares de mineralogia e geologia; idem, de moedas romanas; porcelanas “Companhia das Índias”; faianças e cerâmicas portuguesas; curiosidades diversas e, inequivocamente, o maior acervo de pinturas (cerca de 300), esculturas (cerca de 30) e peças, oriundas do Brasil e ou de Autores Brasileiros (neste momento, talvez o maior acervo no exterior ao Brasil).As entradas são gratuitas. O Museu é financiado inteiramente pelo seu Director e pelas empresas de que este é Administrador, v.g. São Macário Turismo, Mariparque, S.A., Pousos Alegre-Empreendimentos Turísticos de Leiria, S.A., Aldeamento Varandas do Lis e Reimobil-Imobiliária da Quinta do Rei, Lda. O seu Director, ou pontualmente outro “Amigo do Museu”, em representação desta, actuam, como jurados, sistematicamente, em Concursos de Pintura e Escultura. A Capela do Museu, está dotado de frescos, de rara beleza e sensibilidade que ali foram pintados, durante meses, pela Brasileira, Maria Alcina Castelo Branco. Nesta deparam-se-nos também 14 peças artísticas do grande escultor Francês, do séc. XIX, “DUTRUC”. Do seu acervo constam cerca de 700 Artistas, pelo que seria fastidioso nomeá-los. No entanto, dos já falecidos, sempre se referem originais de Soares dos Reis, Teixeira Lopes, Jorge Barradas, António Paiva, Delfim Maya, José Rodrigues, António Duarte, António Santos; e muitos outros, quanto a escultores Malhoa, Sousa Pinto, Smith, Cândido da Cunha, Carlos Reis, Silva Porto, Columbano, Alves Cardoso, Abel Salazar, Manuel Filipe, Rezende, Anunciação, Domingos Sequeira, Vieira da Silva, Arpad Szenes, João Vilaret, António Saúde, Eduardo Viana, Dali, Lozano, António Carneiro, e Di Cavalcanti, Glauco Chaves, Carlos Gomes, Cordélia Andrade, Sampaio Parreiras, José de Dome e Óscar Tecídio e muitos outros, pintores. Estão ali representados, hoje, mais de 170 Autores Brasileiros. Em 2000, levou a efeito dez grandiosas exposições, compostas de 500 peças (pintura, escultura, “vária”), do Brasil, em 10 cidades do País, com o tema “BRASIL 500 ANOS”, as quais foram em todos os locais muito apreciadas. Possui as medalhas dos Concelhos de Castro Daire, Batalha, Figueiró dos Vinhos e das Cidades de Pinhel, Leiria, do Embaixador Jean Dawalibi, da Ordem dos Advogados, da Casa-Museu Rosália de Castro; Galardão da Sociedade Artística e Musical de Pousos, do Rancho da Região de Leiria, da Casa do Minho do Rio de Janeiro, do Coral do BNU, da Tertúlia Vimaranense (Cidade de Guimarães). Tem sido muitas vezes ao longo da sua existência divulgada em revistas e jornais.Visitaram-na já Presidentes, Embaixadores, Ministros, Bispos e milhares de Artistas que deixam sempre as suas favoráveis e enaltecedoras opiniões (espanhóis, franceses, alemães, ingleses, brasileiros, argentinos, mexicanos, israelitas, moçambicanos, angolanos, irlandeses, russos, ucranianos e italianos, nomeadamente). Constitui-se, actualmente o “Grupo Museológico do Automóvel Antigo e Clássico”, compreendendo já 57 unidades, desde 1909 a 1980; com exemplares raríssimos a outros que são lenda e ou pertenceram a personalidades mundiais. É intenção firme autonomizar-se do existente, todo o património artístico de raízes brasileiras, constituindo-se o “Grupo Museológico de Artes Brasileiras”, cujas Salas, à semelhança do que se nos depara actualmente, terão, cada uma, o seu respectivo Patrono, dentre os Grandes reconhecidos; os quais são, felizmente, muitos. Estreitam-se cada vez mais as relações do Museu com os Artistas Plásticos do Brasil e com Instituições Culturais que os representam. Tal movimento vai, por todos os meios disponíveis, ser incrementado, para enriquecimento do Belo, da Arte, da Beleza, e das relações entre o Brasil e Portugal.
Publicada por Arménio Vasconcelos

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Mulher Mãe

Do meu mar imenso extravasa, fronteiras
que das lembranças do meu ser, tua visita é presença.
E do meu olhar das parcelas dispersas, até à eternidade,
sinto teu olhar intranquilo, aveludado...
Até sorver o pensamento do universo
comungamos palavras adormecidas e outras vozes...
Ressuscito poemas e nas vozes dos anjos,
ventanias de aromas povoam as casas de pedra da aldeia do mundo,
o âmbar e a cidreira repousam junto das nossas memórias,
almas unidas até além da morte... Mulher,
somos verbo, pujança e trilho.
E quando o céu povoa silêncios, recolhemos
e reunidas reinventamos as palavras
adormecidas nas vozes de estrelas,
guardiãs da nossa consciência, eternamente. E lutamos.
Cristina Correia

sexta-feira, 12 de junho de 2009

sábado, 6 de junho de 2009

Douro Sentido

quarta-feira, 3 de junho de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Mário Brochado Coelho


Biografia de Mário Brochado Coelho

Nasceu a 2 Julho de 1939 em Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia.

Estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra entre 1956 e 1962. Expulso por motivos políticos da Universidade de Coimbra pelo prazo de 30 meses, concluiu a licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Advogado de presos políticos nos Plenários Criminais do Porto e Lisboa, foi advogado do Sindicato dos Bancários do Norte, com intervenção na criação da Intersindical.

Advogado da acusação particular no caso do assassinato pelo MDLP do Padre Maximino de Sousa e da estudante Maria de Lurdes Correia – 1977/1999.

Membro coordenador do Tribunal Cívico Humberto Delgado – 1977/78.

Consultor jurídico, desde 1974, de inúmeras associações de moradores do Grande Porto. Consultor jurídico dos Serviços Municipalizados de Águas e saneamento, de 1982 a 2002. Provedor do cliente dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento do Porto, entre 2002 a 2006.

Foi eleito duas vezes como deputado municipal no Porto, em 1977 e 1981.
Agraciado em 2006 pelo Presidente da República com a Ordem da Liberdade.

Principais publicações (para além de colaborações na imprensa e em revistas):

-“Em defesa de Joaquim Pinto de Andrade”, Afrontamento, Porto, 1971

- “Uma farsa eleitoral – o caso do Sindicato Metalúrgico de Aveiro”, Afrontamento, Porto, 1973

- “Lágrimas de guerra”, Afrontamento, Porto, 1987 (diário)

- “Cinco passos ao sol”, Afrontamento, Porto, 1991 (poesia)- “A liberdade sindical e o quadro estatutário das associações sindicais”, CEJ/IGT, Coimbra Editora, 2004

quinta-feira, 28 de maio de 2009

ESPAÇO CIDADÃO

ESPAÇO CIDADÃO

Para votar... Sabe onde está recenseado?

Para confirmar o seu recenseamento para as eleições basta que escreva o seu nome, n.º do Bilhete de Identidade e data de nascimento... e pode fazê-lo aqui.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tempo das águas... tempo das árvores

Ficarei para sempre no tempo incerto
dos silêncios,
junto às árvores_____quedo-me tranquilamente
e, escrevo nas águas "memórias do sempre"
sílabas de paz,
por fim,
reinvento as palavras adormecidas e outras vozes.
Foi para ti que criei as folhas de seda
que atapetam o ninho das águas
e irmanam com as árvores do mundo.
Ficarei para sempre no tempo incerto
dos silêncios,
junto às árvores_____sei que as agarro
durante as minhas horas de existência
porque, essas sim,
são verdade,
espaços contíguos
das minhas rugas, que me concedem
caminhos de firmeza
e, me enchem de claridade.

A árvore dos valores

Esta é a nova "árvore dos valores", que foi pintada pelo Edu, um artista local, para alegrar os jardins da Casa Emanuel http://www.casaemanuel.org/
No pequeno "oásis" que é esta casa, nos arredores de Bissau, não se esquecem valores como a liberdade, a paz, o trabalho, a compaixão, a coragem, o amor e a criatividade.
Bem hajam!
http://sorrisosemcor.blogspot.com/

Mobiliza-te!


Mobiliza-te!
Sabiam que...
800 milhões de pessoas não têm acesso a comida suficiente para se alimentarem?
1.100 milhões de pessoas sobrevivem com menos de 1 dólar por dia?
1.200 milhões de pessoas não tem acesso à água potável?
10 milhões de crianças não sobrevivem até aos 5 anos por causas que podem ser evitadas?
50 milhões de pessoas em todo o mundo são afectadas com o VIH-SIDA?
10% da população mundial desfruta de 70% das riquezas do planeta...
Não será motivo para parar e pensar como podemos agir?
Desconhecimento não é desculpa.
Não fiquem indiferentes.
Mobilizem-se!
www.pobrezazero.org

Junto às árvores

Sei que a voz do olhar tem silêncios
e o mutismo domina o tempo
nas teias dos espelhos minguados.
Se soubessem quanto espreitamos
a memória dos silêncios
entre o genuíno e a perplexidade da consciência
jamais exerceriam actos disformes.
Junto à memória o conhecimento
imbuído em palavras verdade,
como é frágil o Ser,
e tão lúcido o pensamento.
A generosidade das árvores
não tem fim,
sei que as agarro
durante as minhas horas de existência
porque, essas sim,
são verdade,
espaços contíguos
das minhas rugas, que me concedem
caminhos de firmeza
e, me enchem de claridade.
Restou tanto por dizer
um vestígio de um olhar,
um refúgio no tempo.
Entre as metamorfoses a liberdade é caminho
para ler a voz do olhar e dos silêncios.
Ficarei para sempre no tempo incerto
dos silêncios,
junto às árvores.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

onde a bondade ainda brilha


Terra de ninguém

Imagino que à passagem do tempo
somos uma estância em metamorfose,
percorremos o limite da utopia
a cada batimento da terra
e, só o silêncio nos é revelado.
Basta ler os lugares dos sonhos
e, de quem os habita.
Mas, na orla infinita do tempo incerto
da passagem da nossa existência humana
há ainda versos por ler
no enleio do fio dos dias.
Nada que agrida me é semelhante.
Nada que floresça me é indiferente.
Atravesso desertos
e, nos desencontros
descubro sinais visíveis, mil reflexos
de sustos e refúgios.
Inocularia na humanidade
alimento indispensável
para as almas da terra de ninguém,
onde a bondade ainda brilha.
Oiço, apenas, a memória que madruga
no envelhecimento da paz.
Cristina Correia

terça-feira, 28 de abril de 2009

Silêncios

_____é, por vezes, um murmurar de silêncios… que só ao poeta lhe é dado o condão de decifrar.



Camilo Castelo Branco " Os Amigos"

A palavra reveste uma indiscutível força poética, uma narração em torno de uma emotividade essencial ao Humanismo. E é justamente através da emotividade - na força poética da palavra - que o poeta desencadeia o dispositivo da criatividade no leitor e que floresce a partir do diálogo. Dá-se, assim, o enlace entre a alma e o humanismo, a única e singular assinatura do mundo - o respeito, o afecto e amizade que damos uns aos outros. CCcerne e verso.
Camilo Castelo Branco "Os Amigos"
Amigos cento e dez, e talvez mais,
eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Pensei que sobre a terra não havia
mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos cento e dez, tão serviçais,
tão zelosos das leis da cortesia,
que eu, já farto de os ver, me escapulia
às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci profundamente. Ceguei.
Dos cento e dez, houve um somente
que não desfez os laços quase rotos.
- Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver". . .
- Que cento e nove impávidos marotos!
Camilo Castelo Branco

segunda-feira, 20 de abril de 2009

terça-feira, 24 de março de 2009

II Antologia de Poetas Lusófonos



Mais um elo para a Lusofonia
Escrever é algo mais do que espalhar letras, entornar palavras ou construir frases. Escrever é transmitir ideias, é concretizar desejos, é realizar sonhos, é prolongar a firme voz de comunicar. Escrever é cunhar identidade pela diversidade cultural que une países, regiões, cidades e aldeias.
A Lusofonia não é apenas um conjunto de países onde se fala a Língua Portuguesa. A Lusofonia está espalhada por todos os países do Mundo. Em todos eles existe alguém que fala ou escreve esta tão amada Língua.
Neste Planeta, em que parte da sociedade o considera global, não existem fronteiras para a Lusofonia nem para a Poesia, como defendia António Gedeão: “Minha aldeia é todo o mundo”.
A II Antologia de Poetas Lusófonos surge com os objectivos nobres de promover a Língua Portuguesa, de promover a Lusofonia e de promover os Poetas que espalham as suas veias inspiradoras por todo o Mundo, tal como o fizeram os grandes vultos da Lusofonia, com especial destaque para o Padre António Vieira, que além da Língua conseguiu unir Continentes.
Este é um livro que tenta unir regiões de vários Continentes. Unir poetas que nesta aldeia global, conseguem unir esforços e vontades para levar a efeito este livro.
O Padre António Vieira deixou escrito que um “Livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”. Este livro é apenas mais uma semente lançada ao vento e que, de certo, irá ajudar a promover a Lusofonia no meio de um acordo que já se discute desde o século XIX.
A II Antologia de Poetas Lusófonos apresenta, nestas quase 500 páginas, 134 poetas de 11 países: Angola, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, França, Índia, Inglaterra, Moçambique, Portugal, Suíça e Timor.
As poesias que tatuam as páginas deste livro não são todas de índole académica. Queremos, também, dar voz à poesia mais popular. Mas, uma coisa é certa: neste livro todas as poesias têm mensagem. Todas elas transmitem sentimentos. Todas elas cantam a mesma Língua. E mais, todas elas nasceram tão distantes umas das outras e conseguiram um elo de verdadeira união através da II Antologia de Poetas Lusófonos.
Este livro nasce de uma grande força de vontade, bem espelhada por todos aqueles que nela participam. E, essa força, nasce em cada um dos 134 poetas destes 11 países, que desejaram e conseguiram saltar este obstáculo, que é a fronteira invisível das nações. Alexandre Herculano defendia que “o erro vulgar consiste em confundir o desejar com o querer. O desejo mede obstáculos; a vontade vence-os”.
Esta é uma Antologia que atravessa Oceanos, une Continentes e espalha Mensagens pelo punho de cada um dos 134 Poetas.
A todos eles e a todos aqueles que permitem que a II Antologia de Poetas Lusófonos seja uma realidade, tenho que deixar em nome das equipas editorial e técnica, os mais cordiais e sinceros agradecimentos.
Um especial agradecimento para as Associações, Academias e Instituições que ajudaram a divulgar o regulamento da II Antologia e, um grande abraço a todos os Poetas.
Como escreveu o poeta açoriano, Armando Côrtes-Rodrigues, “O mar da minha vida não tem longes”.
Até à III Antologia de Poetas Lusófonos.

Adélio Amaro

Coordenador Editorial